Procurar
Últimos assuntos
Quem está conectado?
Há 36 usuários online :: 0 registrados, 0 invisíveis e 36 visitantes Nenhum
[ Ver toda a lista ]
O recorde de usuários online foi de 117 em Qua Jun 23, 2010 11:45 pm
Os cus de Judas - António Lobo Antunes
+3
Ana_Rios
bárbara
AdmIvan
7 participantes
Página 1 de 1
Os cus de Judas - António Lobo Antunes
Os Cus de Judas é um livro de António Lobo Antunes editado pela primeira vez em 1979. Retrata a experiência pessoal de Lobo Antunes como médico de campanha enviado para Angola na Guerra Colonial portuguesa. Ao longo do livro, o leitor que assume mesmo a dimensão de "interlocutora" do personagem principal, constata uma Angola degradada, em plena guerra colonial, esse "inacreditável absurdo da guerra". Muito mais do que uma opinião, a descrição do autor é a explosão de uma dura experiência, focando-se em vários pontos: as inúmeras baixas da guerra (desprezadas pelo Estado), os inocentes da vida (as pobres crianças de Angola e as miseráveis condições em que viviam), a distância de casa, a perda dos laços familiares, o medo da morte mas, sobretudo, a eterna incompreensão dessa guerra.
É o segundo livro do autor e valeu-lhe em 1987 um prémio da embaixada de França em Lisboa.
É o segundo livro do autor e valeu-lhe em 1987 um prémio da embaixada de França em Lisboa.
Ana_Rios- Novato
-
Número de Mensagens : 32
Idade : 38
Q.I. : 34
Reputação : 13
Data de inscrição : 30/12/2008
Re: Os cus de Judas - António Lobo Antunes
Leia esse trecho do livro que eu extraí de http://www.portrasdasletras.com.br
(...) Éramos peixes, somos peixes, fomos sempre peixes, equilibrados entre duas águas na busca de um compromisso impossível entre a inconformidade e a resignação, nascidos sob o signo da Mocidade Portuguesa e do seu patriotismo veemente e estúpido de pacotilha, alimentados culturalmente pelo ramal da Beira Baixa, os rios de Moçambique e as serras do sistema Galaico-Duriense, espiados pelos mil olhos ferozes da PIDE, condenados ao consumo de jornais que a censura reduzia a louvores melancólicos ao relento de sacristia de província do Estado Novo, e jogados por fim na violência paranóica da guerra, ao som de marchas guerreiras e dos discursos heróicos dos que ficavam em Lisboa, combatendo, combatendo corajosamente o comunismo nos grupos de casais do prior, enquanto nós, os peixes, morríamos nos cus de Judas uns após outros, tocava-se um fio de tropeçar, uma granada pulava e dividia-nos ao meio, trás!, o enfermeiro sentado na picada fitava estupefacto os próprios intestinos que segurava nas mãos, uma coisa amarela e gorda e repugnante quente nas mãos, o apontador de metralhadora de garganta furada continuava a disparar, chegava-se sem vontade de combater ninguém, tolhido de medo, e depois das primeiras baixas saía-se para a mata por raiva na ânsia de vingar a perna do Ferreira e o corpo mole e de repente sem ossos do Macaco, os prisioneiros eram velhos ou mulheres esqueléticos menos lestos a fugir, côncavos de fome, o MPLA deixava mensagens nos trilhos a dizer Deserta mas para onde se só havia areia em volta, Deserta, os tipos passavam da Zâmbia para o interior detendo-se de quando em quando para dinamitar as pontes dos rios, um dia depois de um ataque encontrei uma insígnia metálica do Movimento na pista de aviação fiquei a olhá-la como o Lourenço mirava as tripas que se lhe escapavam da barriga, o cabo mostrou-me uma carta caída num arbusto I love to show you my entire body, explicava uma inglesa a um angolano que na véspera nos metralhara oculto no escuro, leves armas checoslovacas de som agudo e rápido, médicos suecos trabalhavam no Chalala Nengo a poucos quilômetros de nós, o Chalala Nengo que os T6 bombardeavam de napaim e resistiam, Uma destas manhãs os meus amigos acordam bem dispostos chegam lá num rufo e destroem aquilo tudo encorajava o coronel optimista de camuflado engomado vindo de Luanda para nos estimular com boas palavras conselhos e ameaças, Vai tu à frente meu cara de caralho respondia o tenente indignado por entre dentes, Se querem rodar ir para um sítio melhor têm de nos mostrar resultados que se vejam minas turras trotil, o comandante encolhia os ombros em tiques de aflição pequeno ridículo quase tocante de embaraço indicava no mapa a extensão da zona que nos cabia, gaguejava Meu coronel Meu coronel Meu coronel, do Mondego ao Algarve para quinhentos homens mal alimentados, peixe quase podre carne em mau estado ossos de frango, gastos de paludismo e de cansaço, a beber a água que pingava gota a gota, lamacenta, dos filtros, acabava-se a cerveja acabava-se o tabaco acabavam-se os fósforos, não havia sequer fósforos no Luso para nós...
(...) Éramos peixes, somos peixes, fomos sempre peixes, equilibrados entre duas águas na busca de um compromisso impossível entre a inconformidade e a resignação, nascidos sob o signo da Mocidade Portuguesa e do seu patriotismo veemente e estúpido de pacotilha, alimentados culturalmente pelo ramal da Beira Baixa, os rios de Moçambique e as serras do sistema Galaico-Duriense, espiados pelos mil olhos ferozes da PIDE, condenados ao consumo de jornais que a censura reduzia a louvores melancólicos ao relento de sacristia de província do Estado Novo, e jogados por fim na violência paranóica da guerra, ao som de marchas guerreiras e dos discursos heróicos dos que ficavam em Lisboa, combatendo, combatendo corajosamente o comunismo nos grupos de casais do prior, enquanto nós, os peixes, morríamos nos cus de Judas uns após outros, tocava-se um fio de tropeçar, uma granada pulava e dividia-nos ao meio, trás!, o enfermeiro sentado na picada fitava estupefacto os próprios intestinos que segurava nas mãos, uma coisa amarela e gorda e repugnante quente nas mãos, o apontador de metralhadora de garganta furada continuava a disparar, chegava-se sem vontade de combater ninguém, tolhido de medo, e depois das primeiras baixas saía-se para a mata por raiva na ânsia de vingar a perna do Ferreira e o corpo mole e de repente sem ossos do Macaco, os prisioneiros eram velhos ou mulheres esqueléticos menos lestos a fugir, côncavos de fome, o MPLA deixava mensagens nos trilhos a dizer Deserta mas para onde se só havia areia em volta, Deserta, os tipos passavam da Zâmbia para o interior detendo-se de quando em quando para dinamitar as pontes dos rios, um dia depois de um ataque encontrei uma insígnia metálica do Movimento na pista de aviação fiquei a olhá-la como o Lourenço mirava as tripas que se lhe escapavam da barriga, o cabo mostrou-me uma carta caída num arbusto I love to show you my entire body, explicava uma inglesa a um angolano que na véspera nos metralhara oculto no escuro, leves armas checoslovacas de som agudo e rápido, médicos suecos trabalhavam no Chalala Nengo a poucos quilômetros de nós, o Chalala Nengo que os T6 bombardeavam de napaim e resistiam, Uma destas manhãs os meus amigos acordam bem dispostos chegam lá num rufo e destroem aquilo tudo encorajava o coronel optimista de camuflado engomado vindo de Luanda para nos estimular com boas palavras conselhos e ameaças, Vai tu à frente meu cara de caralho respondia o tenente indignado por entre dentes, Se querem rodar ir para um sítio melhor têm de nos mostrar resultados que se vejam minas turras trotil, o comandante encolhia os ombros em tiques de aflição pequeno ridículo quase tocante de embaraço indicava no mapa a extensão da zona que nos cabia, gaguejava Meu coronel Meu coronel Meu coronel, do Mondego ao Algarve para quinhentos homens mal alimentados, peixe quase podre carne em mau estado ossos de frango, gastos de paludismo e de cansaço, a beber a água que pingava gota a gota, lamacenta, dos filtros, acabava-se a cerveja acabava-se o tabaco acabavam-se os fósforos, não havia sequer fósforos no Luso para nós...
Re: Os cus de Judas - António Lobo Antunes
Bárbara muito obrigada, esclareceu minha dúvida.
Nossa, que livro complexo...
Estou em um momento muito difícil em minha vida, ando um pouco deprimida, preciso ler algo que deixe-me feliz. Tem alguma dica?
Mas assim que eu sair dessa maré pode deixar que eu vou ler..
Muito obrigada...
Bjosss
Nossa, que livro complexo...
Estou em um momento muito difícil em minha vida, ando um pouco deprimida, preciso ler algo que deixe-me feliz. Tem alguma dica?
Mas assim que eu sair dessa maré pode deixar que eu vou ler..
Muito obrigada...
Bjosss
Ana_Rios- Novato
-
Número de Mensagens : 32
Idade : 38
Q.I. : 34
Reputação : 13
Data de inscrição : 30/12/2008
Re: Os cus de Judas - António Lobo Antunes
Nossa... que realidade mais triste a deste livro.
Enquanto lia o trecho, uma cena de filme de guerra de quinta começou a passar na minha cabeça. Deu até arrepios.
Acho que tá faltando pontuação neste trecho.
Enquanto lia o trecho, uma cena de filme de guerra de quinta começou a passar na minha cabeça. Deu até arrepios.
Acho que tá faltando pontuação neste trecho.
Becker- Novato
-
Número de Mensagens : 45
Idade : 43
Q.I. : 60
Reputação : 8
Data de inscrição : 07/04/2009
Re: Os cus de Judas - António Lobo Antunes
Nossa que livro, eu logo que li pensei que fosse alguma comédia
Kayo Da Vinci- Novato
-
Número de Mensagens : 37
Idade : 32
Q.I. : 20
Reputação : 13
Data de inscrição : 22/11/2008
Re: Os cus de Judas - António Lobo Antunes
Hahaha' Adorei o título!
kllosbbollynno- Junior
-
Número de Mensagens : 71
Idade : 27
Q.I. : 98
Reputação : 16
Data de inscrição : 11/06/2009
Re: Os cus de Judas - António Lobo Antunes
A trama é interessante, mas que nome para um livro, hein !!!!!
Página 1 de 1
Permissões neste sub-fórum
Não podes responder a tópicos
Seg Fev 25, 2019 4:58 pm por joyfelixx
» Quem leu A Cabana de William P. Young??
Dom Abr 26, 2015 1:01 pm por Everton Marques Ribas
» Dicas de Leitura para mim
Qui Nov 06, 2014 3:53 pm por amelieS
» Erica Cardoso
Qui Jul 31, 2014 9:44 pm por Erica Cardoso
» MEU LIVRO DE AEROMODELISMO
Seg Jul 21, 2014 8:56 pm por yoda
» [AD]Ma3x MU Online Season 7,Experience 10&15x NO RESET!
Dom maio 18, 2014 4:32 pm por jacklin
» AMIGOS TOTALMENTE DIFERENTES (blog)
Sáb Fev 15, 2014 10:11 pm por jorge2009sts
» BENÇÃO OU MALDIÇÃO: FESTA DE DEBUTANTE (cap. final)
Sex Fev 07, 2014 11:18 pm por jorge2009sts
» BENÇÃO OU MALDIÇÃO: FESTA DE DEBUTANTE (cap. 5)
Sex Fev 07, 2014 10:31 pm por jorge2009sts
» BENÇÃO OU MALDIÇÃO: FESTA DE DEBUTANTE (cap. 4)
Sex Fev 07, 2014 10:30 pm por jorge2009sts