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Sobre o narrador-personagem Humbert
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Sobre o narrador-personagem Humbert
Humbert é, aparentemente, um sujeito normal, respeitado na sociedade. É admirado, sobretudo pelas mulheres, apesar de se mostrar completamente indiferente para com elas. E é, aparentemente, um celibatário convicto, o que lhe aumenta o encanto. E também um tudo-nada excessivamente introvertido. Praticamente um misantropo.
Mas quando analisamos a sua prosa, descobrimos ou, se calhar, confirmamos uma personalidade profundamente anti-social.
O seu discurso não revela a menor sombra de afecto, estima ou admiração por ser humano algum, salvo as características morfológicas, apenas e só, das crianças a quem apelida de ninfitas.
Em relação aos restantes seres humanos, a tónica dominante é o desprezo desdenhoso, em virtude da sua suposta superioridade física e intelectual.
Este desprezo é dirigido tanto a homens como a mulheres adultos.
A referência, por exemplo, à mãe de Lolita, uma mulher que se encontra no apogeu da sua sensualidade de mulher adulta, a fazer lembrar um pouco a irónica sedução de Lauren Bacall, são sempre coloridas por adjectivos de teor pejorativo como “a gorda Haze” ou “a gata velha”.
Já a tonalidade épica, trágico-heróica, de elevada carga poética das suas palavras ao referir-se ao corpo de Lolita, criam um forte contraste com o restante discurso – a única nota dissonante da seca homogeneidade de uma prosa onde impera o cinismo.
Ex: “…impuros e indiferentes olhos crepusculares – como a mais reles das sedutoras – pois é isso que as ninfitas imitam, enquanto nós gememos e morremos”.
A eloquência e a grandiosidade deste discurso têm como objectivo convencer um júri - constituído quase exclusivamente por mulheres –, de que Humbert é, ele próprio, a vítima impotente da sedução de uma criança marcada por uma espécie de perversidade, na sua óptica, inata, e por impulsos sexuais precoces. A função deste tipo de linguagem, nesta situação, é a de despertar a compaixão, apelando ao romantismo da bancada feminina do júri.
Estes apontamentos são uma reconstituição literária, feita por Humbert, já no cárcere, das suas memórias, reunidas num caderno diário, encontrado e destruído por Charlotte. Para além da forma patética e distintamente cobarde como tenta, de forma explícita, justificar o seu comportamento, podemos facilmente identificar a perspicácia e o calculismo das atitudes de Humbert nas entrelinhas. A sua astúcia vai, no entanto, sendo progressivamente toldada pelo medo crescente face à possibilidade de uma traição por parte do objecto amado.
A cobarde hipocrisia de Humbert está patente na contradição entre as palavras e o seu comportamento efectivo. Humbert define-se como “incapaz de atentar contra a inocência de uma criança”. No entanto, tem de recorrer ao uso abusivo de fármacos para possuir Lolita pela primeira vez: Humbert só não se torna um violador em série de várias “ninfitas” pelo medo de ser descoberto e punido.
Esse é o motivo principal pelo qual se aproxima de Charlotte, propondo-lhe casamento.
Trata-se da camuflagem perfeita que lhe permite, simultaneamente o acesso fácil ao verdadeiro objecto da sua lascívia.
Em relação à temática propriamente dita, o discurso de Humbert debruça-se sempre aos seus próprios desejos, gostos estéticos e impulsos. Nunca sobre os de Lolita. Na realidade, ele nunca se mostra preocupado com o que ela pensa ou sente. É um homem exclusivamente centrado em si mesmo.
por http://hasempreumlivro.blogspot.com
Mas quando analisamos a sua prosa, descobrimos ou, se calhar, confirmamos uma personalidade profundamente anti-social.
O seu discurso não revela a menor sombra de afecto, estima ou admiração por ser humano algum, salvo as características morfológicas, apenas e só, das crianças a quem apelida de ninfitas.
Em relação aos restantes seres humanos, a tónica dominante é o desprezo desdenhoso, em virtude da sua suposta superioridade física e intelectual.
Este desprezo é dirigido tanto a homens como a mulheres adultos.
A referência, por exemplo, à mãe de Lolita, uma mulher que se encontra no apogeu da sua sensualidade de mulher adulta, a fazer lembrar um pouco a irónica sedução de Lauren Bacall, são sempre coloridas por adjectivos de teor pejorativo como “a gorda Haze” ou “a gata velha”.
Já a tonalidade épica, trágico-heróica, de elevada carga poética das suas palavras ao referir-se ao corpo de Lolita, criam um forte contraste com o restante discurso – a única nota dissonante da seca homogeneidade de uma prosa onde impera o cinismo.
Ex: “…impuros e indiferentes olhos crepusculares – como a mais reles das sedutoras – pois é isso que as ninfitas imitam, enquanto nós gememos e morremos”.
A eloquência e a grandiosidade deste discurso têm como objectivo convencer um júri - constituído quase exclusivamente por mulheres –, de que Humbert é, ele próprio, a vítima impotente da sedução de uma criança marcada por uma espécie de perversidade, na sua óptica, inata, e por impulsos sexuais precoces. A função deste tipo de linguagem, nesta situação, é a de despertar a compaixão, apelando ao romantismo da bancada feminina do júri.
Estes apontamentos são uma reconstituição literária, feita por Humbert, já no cárcere, das suas memórias, reunidas num caderno diário, encontrado e destruído por Charlotte. Para além da forma patética e distintamente cobarde como tenta, de forma explícita, justificar o seu comportamento, podemos facilmente identificar a perspicácia e o calculismo das atitudes de Humbert nas entrelinhas. A sua astúcia vai, no entanto, sendo progressivamente toldada pelo medo crescente face à possibilidade de uma traição por parte do objecto amado.
A cobarde hipocrisia de Humbert está patente na contradição entre as palavras e o seu comportamento efectivo. Humbert define-se como “incapaz de atentar contra a inocência de uma criança”. No entanto, tem de recorrer ao uso abusivo de fármacos para possuir Lolita pela primeira vez: Humbert só não se torna um violador em série de várias “ninfitas” pelo medo de ser descoberto e punido.
Esse é o motivo principal pelo qual se aproxima de Charlotte, propondo-lhe casamento.
Trata-se da camuflagem perfeita que lhe permite, simultaneamente o acesso fácil ao verdadeiro objecto da sua lascívia.
Em relação à temática propriamente dita, o discurso de Humbert debruça-se sempre aos seus próprios desejos, gostos estéticos e impulsos. Nunca sobre os de Lolita. Na realidade, ele nunca se mostra preocupado com o que ela pensa ou sente. É um homem exclusivamente centrado em si mesmo.
por http://hasempreumlivro.blogspot.com
Re: Sobre o narrador-personagem Humbert
Acho que o Humbert sofre de alguma doença. Dizem que é Parafilia (quando alguém sente prazer com formas alternativas à relação sexual), mas não sei.
O amor que ele sente não é condenável de maneira alguma, mas as ações, sim.
É dificil ter o que pensar. Acho ele um personagem bom para estudo.
O amor que ele sente não é condenável de maneira alguma, mas as ações, sim.
É dificil ter o que pensar. Acho ele um personagem bom para estudo.
Re: Sobre o narrador-personagem Humbert
Assim como Machado de Assis nos mostra um Bentinho inseguro, Nabokov nos mostra um Humbert aparentemente cego pelo desejo, mas também tentando comprovar sua inocência, apresentando uma versão romantizada de sua relação com Lolita (a dor de Lolita só é percebida indiretamente, ele nunca a faz citar diretamente - em compensação, todas as regalias que lhe oferecia eram supracitadas). Humbert Humbert é um dos personagens mais instigantes da literatura universal, usando de suas artimanhas para convencer o leitor.
Re: Sobre o narrador-personagem Humbert
bárbara escreveu:O amor que ele sente não é condenável de maneira alguma, mas as ações, sim.
O amor nunca é condenável?
angu- Iniciante
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Re: Sobre o narrador-personagem Humbert
eu concordo com a bárbara, o amor não é condenável.
Não há nenhum problema que HH ame Lola. Vários homens e mulheres adultos amam crianças(filhos ou não). Homens amam outros homens, mulheres amam outras mulheres. Não há nada de errado nisso.
Errrado é usar esse amor como desculpa para fazer maldades.
Não é porque eu amo que tenho direito de matar, prender, estuprar ou torturar alguém.
Não há nenhum problema que HH ame Lola. Vários homens e mulheres adultos amam crianças(filhos ou não). Homens amam outros homens, mulheres amam outras mulheres. Não há nada de errado nisso.
Errrado é usar esse amor como desculpa para fazer maldades.
Não é porque eu amo que tenho direito de matar, prender, estuprar ou torturar alguém.
Becker- Novato
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