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Mensagem por Liev Pyta Qui Jan 03, 2013 8:19 pm

O autor

Tudo estava pronto. Expirais vinculavam folhas impressas: minhas idéias; deleites e desenganos de cinco verões. Estava orgulhoso de mim mesmo. Queria mostrar ao mundo meu empirismo e sapiência. Assim comecei a tentar selecionar o leitor que poderia entender a complexidade de minha obra. Tudo em vão!
A primeira coisa que descobri: leitores não se interessam por obras, mas sim por autores. Uma obra escrita por um amador interessará a seus amigos, conhecidos e deixará seus familiares perplexos e arrependidos, mas não ao leitor médio que precisa do reconhecimento prévio para saber por onde se aventurar.

Contei empolgado sobre meu feito e distribui cópias a meus amigos, mas descobri a segunda etapa: amigos preferem não ler a se decepcionarem com sua falta de talento. Sentem que o conhecem a fundo, nos seus sentimentos mais íntimos e que por isso ler um trabalho amador seria só perda tempo. Como conversam com você sobre tudo, não tem porque se interessarem pelo seu ponto de vista sobre universos inventados. Familiares eu sequer cogitei contar o meu segredo, afinal, não queria fazer minha mãe se sentir culpada por projetar as decepções das personagens em mim, meu irmão com vergonha de ser taxado como "irmão do cara que falava com o diabo" ou meu pai com pena pelo fracasso de um esforço que jamais seria reconhecido.

A terceira etapa foi a de me iludir que de algum modo existia um público-alvo direcionado a meu tipo de trabalho, o que é parcialmente verdade - apesar de ser um público que consumiria seu livro por um sentimento escuso: curiosidade sobre a mente doentia do autor que julgavam um sujeito estranho.

Enviei cópias para editoras que inteligentemente nem liam as pilhas de originais que recebiam, por saberem que é mais negócio traduzir um best-seller - de língua inglesa que é sucesso garantido entre o público teen - do que investirem em tentativas inúteis de um indivíduo se tornar conhecido através de uma arte anacrônica. Algumas editoras aceitaram publicar mediante um pagamento, mas como seria um mau-investimento e um ato humilhante, decidi não ceder a um mercado que legitima a ruindade. Outras aceitaram bancar a publicação - simulando um suposto interesse por obras de qualidade - o que, de início, me animou bastante, até descobrir que sua intenção era de que sujeitos "forçados" - por conta dos laços de parentesco ou amizade - freqüentassem uma noite de autógrafos, pagassem um valor inflacionado por um livro de pequena tiragem e deixassem uma boa soma de dinheiro para a editora que não tinha nada a perder quando o livro fosse esquecido por todos e se tornasse uma relíquia imêmore na casa de poucas pessoas do meio social do autor.

Eis as razões que fizeram com que eu tivesse desistido de publicar minhas obras, mesmo finalizando várias em seqüência por conta do prazer que a escrita me proporcionava. Isso tudo até descobrir um nicho de mercado que se não dava sentido ao que fazia, ao menos colocava pão mesa.
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Muitos sábados passados em que contemplava minha própria obra com um misto de orgulho - por ter sido capaz de conseguir materializar idéias abstratas - com vergonha - por sentir-me pretensioso e tolo ao valorizar uma obra medíocre - decidi sair para ficar de porre e para estimular a bebedeira carreguei a obra comigo. O bar era um lugar habitual: alguns operários, prostitutas, mulheres vulgares e malandros isolados sobre o balcão cheirando a cigarro, enquanto grupos de amigos tendiam a ficar em mesinhas priorizando uma interação social.
- Chefia, me dá um uísque com gelo - pedi sentando-me naqueles banquinhos compridos e estreitos que como diria um velho conhecido "fazem bico no cu".
- Melhor, dá um sem gelo mesmo - ordenei para impedir que ele tirasse uma pedra de gelo do balde de alumínio.
Mas foi tarde, ele já havia misturado gelo ao líquido, então me coube enfiar a mão, retirar a pedra e colocá-la sobre um cinzeiro. Virei o líquido. Pedi outra dose que bebi. Na terceira fiquei observando o conteúdo contra a luz vendo pequenas fagulhas luminosas brotando do fluído escuro. Quando - alheio ao que acontecia ao meu redor - me preparava para virar-lo de uma vez, um sujeito vestindo branco, com cabelos bagunçados e cara de exausto interrompeu:
- Afogando as magoas amigo? Alguma mulher ou trabalho?
- Trabalho - respondi sem raciocinar, mostrando que estava distraído sobre a possibilidade do sujeito ser um gay tentando me conquistar.
- Qual o seu trabalho? Problemas financeiros ou de desempenho?
- Hum...enquanto recebo o seguro-desemprego, tento ser escritor...
- Ah... legal - não conseguindo disfarçar uma expressão que mesclava pena com repulsa. - Já pensei em tentar escrever....como diz aquele ditado...plantar árvore, ter um filho e escrever um livro. Só que assim como tu, acho que não conseguiria terminar de escrever.
- Eu terminei de escrever dois livros.
- Então não conseguiu publicá-los?
- Teve duas editoras que gostariam, mas não me senti satisfeito com o resultado da obra, por isso não quis lançá-la.
- Entendo. Tenho que sair, porque meu plantão terminou a pouco e preciso voltar para casa. Podemos brindar? Posso chamar a saidera?
- Lamento, mas o dinheiro que tenho é suficiente para pagar apenas as doses que já tomei - soltei sem qualquer tipo de constrangimento.
- Não seja por isso, pago com prazer para tu.
- Não posso aceitar.
- Pense que não estou te pagando uma bebida sem receber nada em troca, algum dia quando desistir da idéia de que seu livro é ruim, até porque se fosse não teria duas editoras interessadas, tu me mandas uma cópia autografada - improvisou essa desculpa para que aceitasse sua gentileza.
- Se faz tanta questão, te dou o livro agora - disse a ele enquanto pegava as folhas encadernadas no balcão a minha esquerda.
- Ok. Ei, mas espera ai. Você tem uma caneta para o autógrafo?
Diante da perplexidade da pergunta que era simples, mas que soava como confusa no meu estado quase ébrio, respondi:
- Num precisa, póde fica com a obra e os direitos autorais. Quero mais uma bebida como você quer ser escritor. Faço você escritor desse livro se você me der a bebida.
Não sei por que, mas ele mesmo sem saber o que fazer, acabou aceitando. -Vamos brindar a quê? - perguntei.
- Ao seu livro!
- Ao seu! - respondi.
- Ao nosso - remediou.
Bebemos, brindamos e ele partiu. Ivo era o nome do sujeito. Voltei para casa de maneira tortuosa cheio de idéias desconexas, sem me dar conta do que acabara de fazer.
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Como tive coragem de ceder minha obra a um completo desconhecido, sem conhecer seu gosto literário e suas pretensões? Como pude abdicar meu trabalho de muito por um simples copo de uísque? Sim, minha obra não era grande coisa, mas o mínimo que ela envolvia era um trabalho que certamente valeria mais do que isso. Eram essas as minhas dúvidas e reflexões após acordar no dia seguinte ainda sentindo um gosto ruim de biles na boca e uma dor de cabeça que em alguns momentos se amenizava.

Como o livro envolveu trabalho, certamente merecia ser recompensado por isso. Quanto valeria cada lauda? Quanto valeria cada conjunto de idéias? Quanto seria o preço de um intelecto estimulado ao longo das décadas? Agora não valeriam mais nada porque o uísque já havia evaporado. Talvez - se o comprador o lesse - não valeria nada para ele. Valeria certamente caso não o lesse. Sim, o livro enquanto um conjunto de páginas fechadas, um mistério que poderia se revelar um tesouro, um achado, ou um grupo de baboseiras acumuladas, certamente teria algum valor, ainda mais caso o autor fosse desconhecido, afinal não se poderia dar um veredito preciso sobre a qualidade antes de lê-lo. Desconhecendo o mercado editorial, teria razões para achar que o interesse de publicação seria um indicativo de qualidade, mesmo não sendo. Tentaria publicá-lo para ganhar dinheiro em cima do meu trabalho ou simplesmente o mostraria aos amigos para receber os méritos falsos por ter feito uma obra que se não era boa, ao menos seria elogiada como tal?

Nada disso importava, mas nesse momento de reflexão eu tive um insight: muitas pessoas teriam motivos para almejar a autoria de um livro e mais ainda para não escreverem um livro. Escrever um livro parece uma idéia universal com ares de romantismo que poucos realmente se atrevem, seja pelo exaustivo processo que essa atividade exige de seu artista, seja pela total falta de capacidade de organizar um trabalho numa seqüência mais ou menos coerente que exige tempo, paciência e ao menos um pouco de talento.

A idéia estava desenhada: eu poderia vender os direitos autorais de minhas obras para que outrem se beneficiasse com a fama de ter sido o responsável pela sua confecção. Mas me deparei com um problema: como vender um livro que carece de qualidade a alguém que estaria disposto a pagar? Pessoas que cultivam a leitura como um hábito certamente teriam bons referenciais de autores e achariam minhas obras vergonhosas, de modo, que se convenceria que poderiam fazer melhor. Como qualquer tipo de serviço oferecido, persuadir alguém que sabe fazer determinado ofício melhor do que você a contratá-lo, não parece uma tarefa muito fácil. Nesse caso só quem não domina as técnicas daquele oficio que pode ser convencido de que eu seria um profissional qualificado.

Sim, quem não tem o hábito da leitura, possui dificuldades de entender obras - numa prosa mais erudita - que se passam por complexas. Eis meu público-alvo: sujeitos cujo grupo de amigos seria incapazes de entender uma obra multifacetada, não-linear, com intertextualidade e resoluções tautológicas. Esses amigos e conhecidos julgariam essas obras como porcarias, mas ao menos tenderiam a acreditar que possuiria um alto grau de eruditismo o que poderia aumentar a estima pelo trabalho do amigo. Os que julgariam sua obra pretensiosa e pseudo-intelectual provavelmente o fariam de qualquer modo, afinal, é um crime contra a sociedade algum sujeito tentar se diferenciar dos demais com uma arte anacrônica que se sustenta num estofo intelectual.
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Como encontrar esse público-alvo? Como oferecer-lhes o meu serviço? Como divulgar um trabalho cujo principio básico é de fazer-se secreto sem gerar suspeitas de quem não utilizasse o serviço? Simples: era só oferecer o serviço apenas aos interessados sem que tivesse uma divulgação a um público geral. Isso me levara a outro problema: como descobrir esses possíveis interessados? Como oferecer esse serviço sem parecer ofender o cliente como incapaz ou preguiçoso?

Guiado por essa dúvida comecei a pesquisar na internet sobre o mercado editorial, dúvidas de escritores amadores e foi ai que me deparei com muitos iniciantes comentando sua vontade de começar a escrever uma obra, mas relatando suas dificuldades para começá-las. Fazia-me amigo desses usuários, dando sempre respostas polidas em fóruns - cuja maioria escrevia muito mal - e oferecia meu serviço pedindo discrição por parte de quem poderia ser um possível interessado. Sabia que se a história vazasse do nosso círculo ganharia um status quase de lenda urbana ou simplesmente não seria encarado como algo digno de importância numa sociedade onde o dinheiro paga por qualquer tipo de serviço. Por isso me tranqüilizava com meu status oculto em um perfil baseado num pseudônimo russo.

Lembro-me do meu primeiro cliente: estudava só para não ter que trabalhar e precisava de uma justificativa que soasse "pomposa" para continuar recebendo pensão da família. Ele havia decidido que fazer-se escritor seria favorável ao seu propósito, mas nunca conseguia prosseguir numa história após as cinco páginas iniciais. Disse que tentou escrever contos, mas que acabava se fazendo prolixo demais e por isso não conseguia concluir sua obra. Simulei investigar qual estilo que ele gostaria para sua obra, qual o tipo de tema e outros detalhes nesse sentido, mas torcendo para que suas preferências fossem genéricas para que eu pudesse empurrar algum dos três livros que havia finalizado.

Disse-me que queria algo que remetesse aos clássicos, que fosse inédito e lembrasse "alta cultura". Não tive dúvida que "Infausto" seria uma obra perfeita aos seus propósitos. Emprestei o original para que ele avaliasse e até me animei com sua satisfação com a obra pelos primeiros capítulos, pensando que encontrava qualidade nela. Quando de fato percebi que sua satisfação se dava porque a obra era-lhe confusa, percebi que deveria abandonar minhas ilusões de artista sonhador para me transformar num profissional que vendia um serviço materializado num produto. Antes de dar prosseguimento ao meu novo negócio, esperei o prazo de uma semana para saber se o serviço havia satisfeito o cliente ou se a farsa seria revelada.

Percebendo que tudo estava nos conformes, segui escrevendo meus livros e tentando vendê-los a embusteiros que gostariam de se passar por escritores. No começo, alguns negócios não se concretizavam porque não possuía obras compatíveis com a pretensão do cliente, mas gradativamente, quando fui acumulando obras de diversos gêneros e estilos, dificilmente não convencia algum a optar por alguma obra. Com o aumento da demanda pelo serviço, não conseguia produzir com a mesma qualidade de outrora, por isso comecei a usar truques inescrupulosos como misturar conteúdo de outras histórias que já havia escrito, mudando apenas alguns detalhes para que não pudesse ser acusado de plágio e na maioria das vezes tentando direcionar uma falta de conteúdo para uma suposta complexidade narrativa expressa por um narrador com determinados interesses ou limitações.
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Dez anos se passaram desde que iniciei esse negócio e além de um padrão econômico confortável, sinto-me realizado, porque pude comprar as duas pequenas editoras que quiseram publicar meus livros para que além de servirem para meu novo negócio, também pudesse imprimir manuais e outros produtos atrelados ao consumo que não se travestiam de algo que não eram (pseudo-arte). Sinto-me realizado por vingar-me das editoras - negando-lhes seu status de instituição que fomenta a arte - e também dos possíveis leitores que um dia me rejeitaram."



Liev Pyta
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